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Felipe, o pequeno viajante: conheça a família que viaja o mundo com o filho
- Créditos/Foto:Divulgação
- 12/Fevereiro/2020
- Luchelle Furtado
A frase “aproveitem enquanto vocês ainda não têm filhos” é ouvida por muitos casais. Essa realidade também foi vivida por Claudia Rodrigues e o marido, que ficaram adiando algumas vezes a chegada do filho por medo de não conseguirem mais viajar pelo mundo.
No entanto, após o nascimento do primogênito, o casal percebeu que, na verdade, viajar em família não é um bicho de sete cabeças e nem se limita a roteiros para a Disney. Para saber mais sobre essa história, confira a entrevista que o Rota de Férias com Cláudia. Atualmente, a família já conheceu mais de 60 países.
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Felipe, o pequeno viajante
Rota de Férias: O que é o “Felipe, o pequeno viajante”? Quando surgiu essa ideia?
Claudia Rodrigues (@claudiarodriguespegoraro): Felipe, o pequeno viajante é o nosso blog. A gente o criou logo que o Lipe – como Felipe é carinhosamente chamado pelos pais – nasceu. Na época não existiam praticamente blogs de viagens em família no Brasil. Só achávamos blogs estrangeiros, já que os europeus sempre viajaram muito com crianças. Como eu e o meu marido sempre viajamos muito, mesmo antes do Felipe nascer, nós queríamos fazer isso com ele. Já éramos viajantes experientes e conhecíamos quase 40 países. Durante a minha licença a maternidade, que durou seis meses, eu procurava viagens para fazer com ele. Entretanto, quando comecei a me informar, não achei nada na internet sobre como era viajar com criança e o que levar. Então, em janeiro de 2010, tive essa ideia e criei o blog. Além disso, meus amigos, que sabiam que eu viajava bastante, me pediam dicas e eu acabava fazendo isso por e-mail. Depois, eu os informei que ia criar um blog e colocar nele as nossas experiências.
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RF: O que mudou desde a chegada de um filho na hora de montar os roteiros?
CR: Na verdade, as coisas mudaram bem pouco, porque a gente sempre viajou de forma independente e procurava gastar o mínimo possível. Nós não somos os tipos de turistas que gostam de viagem de luxo. Então, a gente sempre procurou fazer passeios econômicos e por conta própria, sem precisar procurar agências, resorts e essas coisas. Portanto, continuamos fazendo o mesmo tipo de viagem que já fazíamos antes do Lipe chegar. O que mudou mesmo é que antes dele nascer nós ficávamos em albergue com banheiros compartilhados. Fizemos isso algumas vezes com ele, mas começamos a pensar que seria melhor pegarmos quartos com banheiros individuais. Depois disso, a gente tentou cada vez mais minimizar o número de bagagens, porque antes levávamos um mochilão para cada um. Notamos que, com o Felipe, não dava para levar três mochilas grandes. Por isso, nós tivemos que diminuir as nossas malas para poder levar as coisas dele. Hoje, somos três viajantes com as mesmas duas mochilas de antes. Fora isso, começamos a incluir pracinhas no nosso roteiro.
RF: Além das pracinhas, esses roteiros foram alterados?
CR: Não foi porque tivemos o Felipe que a gente começou a fazer viagens para resorts, hotéis fazenda e para a Disney. Continuamos fazendo os mesmo tipos de viagens que fazíamos antes dele chegar. A nossa primeira grande aventura internacional com o Felipe foi para os Estados Unidos e para o Canadá, quando ele tinha três meses. Alugamos um carro e fizemos uma road trip. Depois que ele começou a crescer, a gente passou a incluir pracinhas e ir em restaurantes que contam com áreas kids. Entretanto, em nenhum momento fizemos roteiros específicos para ele. Depois dessa viagem para a América do Norte, fizemos outra roadtrip pelo Paraguai, pela Argentina e a Rota das Missões Jesuíticas. Depois, fomos para a Colômbia e fizemos uma viagem de volta ao mundo que passou por Mongólia, Nepal e Índia. Não eram roteiros infantis, e a gente demorou alguns anos para levá-lo pela primeira vez à Disney.
RF: Como foi essa experiência e o processo de adaptação? De um ano para o outro vocês começaram a viajar com um filho e não mais a sós?
CR: O processo de adaptação foi bem simples. Foi só incluir algumas coisas a mais na mala, como mamadeira e bico. Antes, a gente levava carrinho para ele ficar bem confortável, por exemplo. Hoje em dia, não precisa mais. Nossa primeira viagem com ele foi muito tranquila. A partir daí, a gente percebeu que viajar com crianças e bebês não era um mistério. Por conta disso, fomos ficando cada vez mais corajosos.
RF: Por que vocês escolheram os EUA e o Canadá para a primeira viagem?
CR: Começamos pelos Estados Unidos e pelo Canadá porque são lugares que nós já conhecíamos e sabíamos que tinham bons serviços de saúde. Isso seria importante se a gente precisasse de qualquer coisa para o Felipe.
RF: Vocês falam que o Felipe tem um espírito aventureiro. Desde quando ele viaja?
CR: A primeira viagem do Lipe foi praticamente com um dia de vida, porque eu tive ele em uma cidade que não era a nossa. Saímos do hospital e já pegamos a estrada. Mas a primeira viagem, de fato, foi quando ele estava com uns 15 dias e nós fomos para Montevidéu. Pegamos a estrada e dirigimos até Punta Del Este, também no Uruguai. Vale destacar que a gente morava na fronteira com o país, portanto já estamos acostumados com esse tipo de passeio.
RF: O Felipe já viajou com vocês por mais de 60 países. Ele é um bom parceiro de viagem?
CR: Eu brinco dizendo que Deus manda o filho certo para cada pessoa. Eu nunca tive jeito nem espírito maternal de muitos cuidados. Então, acho que Deus me mandou o filho certo ou então que é porque criamos ele dessa forma bem solto no mundo. Isso fez com que o Felipe criasse anticorpos de todas as partes. Quando ele mal tinha completado dois anos, fomos para a Índia, que é o lugar com menos higiene que eu conheço. Ele nunca teve nenhum problema, nenhuma doença, no máximo ele tinha uma febre ou coisa do tipo. Ele nunca adoeceu, por exemplo, por conta de mudança de temperatura.
RF: Como ele lida com a culinária tão diferenciada desses países?
CR: Hoje em dia ele está mais chato do que quando ele era bebê. Quando ele era mais novo, lembro da gente em trens da China e da Índia. Aas pessoas ofereciam comidas apimentadas e salgadinhos e ele comia aquilo bem facilmente. Às vezes, escorria lágrimas por conta da pimenta e ainda assim ele comia. Mas nós nunca tivemos muita frescura com isso. Em casa, ele tem uma alimentação super saudável. Come bastante arroz, feijão, brócolis e não gosta muito de doce. A gente procura não ter essa preocupação porque em viagem vale tudo. É muito difícil a gente chegar em algum lugar que não vai ter um bife de frango, por exemplo. Na Ásia, onde a comida é bem diferente, tem arroz em todos os lugares. Para o Felipe, tendo arroz, carne, ovo ou uma massinha, ele está feliz. Caso não tenha nada que ele goste, a gente vai no McDonald’s e compra uma caixinha de nuggets ou faz miojo. Passar fome ele nunca passou, porque damos para ele o que tem de disponível e ele sempre comeu o que tinha. Se alguém criar o filho com muitas frescuras, vai ser difícil na hora de viajar, porque não vai ter exatamente o que você costuma dar para ele em casa. Mas se não tiver essa bobagem, de ter que comer exatamente algumas coisas específicas, tudo fica tranquilo.
RF: Algumas famílias preferem levar os filhos para lugares como Disney, hotéis fazendas e parque aquáticos por conta da diversão com foco nas crianças. Qual a dica que você daria para mostrar que é possível se divertir com crianças em todos os lugares?
CR: O Felipe adora parque aquático e a gente já levou ele em alguns. Da Disney, por exemplo, ele não gosta muito. Já o levamos na Disney da Califórnia, da Flórida e quando estávamos no Japão, perguntamos se ele queria ir na de Tóquio e ele falou que não, porque preferia ir à Legoland. O Felipe não gosta desses parques de diversões que têm filas gigantescas, porque ele não tem paciência para ficar esperando. Bebês e crianças pequenas não ligam para onde eles estão. Para eles, o que importa é estar com os pais e ter a atenção deles 24 horas por dia. Não importa se é em um parque de diversão ou em uma pracinha. E isso é possível fazer em qualquer lugar do mundo. A gente se divertiu com o Felipe andando de camelo no Marrocos, e acampando em ger, na Mongólia. É muito fácil agradar criança, ainda mais quando elas são pequenas.
RF: Com todas essas viagens feitas em família, qual lugar mais os marcou? Qual foi a comida mais gostosa? E o povo mais receptivo?
CR: Dizer qual é o lugar que mais nos marcou é muito difícil, porque como a gente viaja bastante, temos vários lugares preferidos. Mas uma viagem que gostamos muito de fazer foi uma de motor home pela Nova Zelândia. A gente se apaixonou por aquela forma de viajar e pela liberdade que esse meio permite. Fora isso, a Nova Zelândia é maravilhosa. Mas tem inúmero outros lugares. A Índia é muito marcante. Também fizemos um passeio legal para a Patagônia, quando o Felipe era pequeno. É um lugar espetacular, acessível e próximo ao Brasil. Recomendo bastante para famílias e para qualquer um que gosta de aventura, porque é um destino que tem coisas para todas as idades. Já a nossa comida preferida é a tailandesa, e o povo também é super receptivo. Eles sempre estão com um sorriso no rosto.
RF: Vocês já passaram por muitos perrengues?
CR: A gente passa muito perrengue nas viagens e isso acontece porque sempre vamos por conta própria. A gente já foi acusado de crimes contra a segurança nacional na China. Mas de todas essas situações que passamos, a do Felipe quase perder um dedo na Indonésia foi a pior, pois foi a única que teve uma questão de saúde envolvida. Estávamos em uma ilha que não tinha nada. Era só a areia e o mar. Enquanto estávamos andando de bicicleta, o Felipe tirou o pé da cadeirinha e enfiou na roda. Na época, ele tinha uns dois anos. Isso causou um rasgo gigante no pé dele e jorrava sangue. Não foi nem uma coisa grande, mas foi horrível ver nosso filho sangrando em um lugar que não tinha posto de saúde e nem nada. Saímos correndo, abandonamos as bicicletas alugadas e levamos ele no colo do meu marido até um lugar onde era possível fazer um curativo. Por sorte, achamos um médico que era residente e deu os pontos necessários no dedo dele. O atendimento foi excelente. Isso aconteceu na Indonésia, mas é uma coisa que poderia ter sido em casa, porque uma criança enfiar o pé na bicicleta é algo comum. Depois, fomos em uma clínica médica em Bali, ele tirou os pontos e ficou tudo certo. Na hora a gente pensou que ele ia perder o dedinho, mas depois acabou tudo bem.
RF: Como funciona a produção de conteúdo para as redes sociais?
CR: Não temos essa preocupação de elaborar conteúdos para as redes sociais, porque nós somos funcionários públicos e temos o nosso trabalho. A gente não tem finalidade de ter lucro com o blog, não vendemos nada e nem temos ambição de viver dele. O blog é só um passa tempo e ele nasceu com a única intenção de compartilhar nossas viagens e de incentivar outras famílias a viajarem. Eu sempre digo que o blog é o scrapbook para a família, já que desde que eu o criei, nunca mais fiz um álbum de fotografia. Isso é uma recordação que o Felipe vai ter.
RF: Vocês dois são funcionários públicos. Como se organizam na hora de planejar uma viagem?
CR: A gente sempre viaja nas nossas férias, em licenças ou e feriados. Procuramos aproveitar o máximo possível o nosso período de folga. Até o Felipe entrar na escola regular, enquanto ele ainda estava no período infantil, a gente sempre viajava na baixa temporada, durante os meses abril, maio, setembro e outubro. Depois que ele entrou na escola passamos a viajar sempre nas férias escolares. Às vezes, eu acabo emendando alguns dias no final das férias, mas isso é o máximo que a gente faz. Ele nunca perdeu mais do que três ou quatro dias de aula.
RF: Atualmente, vocês contam com mais de 19 mil seguidores no Instagram. Há algum tipo de patrocínio ou parceiro que apoia o blog?
CR: A gente não conta com nenhum tipo de patrocínio. Fazemos parcerias, mas nada é financeiro. Nunca recebemos dinheiro para fazer alguma coisa. O máximo que acontece é a gente aceitar convite. Então, se um hotel chama a gente para conhecê-lo, ou se tem a possibilidade de visitarmos uma atração, nós vamos. No caso da Disney, por exemplo, eu acho caríssimo pagar para ir em todos os parques. Uma vez eles nos convidaram para conhecer todos os complexos e nós aceitamos. Entretanto, não fazemos nenhum tipo de divulgação em troca desses convites. A gente só divulga e compartilha nas nossas redes, os lugares que a gente realmente gostou e que achamos que as outras pessoas vão gostar também. Não falamos bem de um lugar só porque nos convidaram para conhecer gratuitamente. Escrevemos o post falando que gostamos por tais motivos ou que não recomendamos para outras famílias por outros motivos.
RF: O que você acha da função de impulsionamento de posts do Facebook? E quanto à opção (não indicada) de comprar seguidores no Instagram?
CR: A gente faz parte da Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem (RBBV), que não recomenda essas práticas. Além disso, eu não quero investir no blog, já que eu não ganho nada com isso. Invisto dinheiro viajando. Fora isso, não vejo sentido em comprar seguidores, porque como pessoas que não nos conhecem vão ter interesse em interagir conosco?
RF: Quais equipamentos você usa para postar fotos e vídeos?
CR: A nossa bagagem de mão é praticamente só de equipamento. O meu marido gosta de levar drone, ele usa uma câmera DSLR e eu uso uma câmera mirrorless. Também levamos a GoPro. Apesar de ter um celular bom para fotografia, não consigo me acostumar só com ele.
RF: Você já se decepcionou com algum destino?
CR: O ano passado nós fomos para as Filipinas. Era um dos meus sonhos. Até hoje eu não escrevi nada sobre o país, pois as coisas que vemos de lá no Instagram são muito fakes. É, sim, um destino paradisíaco, mas os influenciadores ficam postando só fotos maravilhosas, cachoeiras vazias e sem ninguém. Eles não mostram que para tirar aquela foto na cachoeira foi preciso ficar horas na fila. Além disso, quando você mergulha, acaba encontrando sujeira.
RF: Quais são os seus próximos objetivos?
CR: O nosso próximo objetivo é continuar viajando. Quero fazer minha primeira viagem de navio. Além disso, pretendemos ensinar o Felipe a esquiar e meu marido quer correr uma meia maratona em Nova York.
RF: Quais dicas você daria para quem deseja se tornar um social media influencer de turismo?
CR: Eu não me considero uma influenciadora, embora algumas pessoas digam que sim. A nossa única intenção é compartilhar nossas viagens, dar dicas, incentivar outras famílias a fazerem o mesmo com o filhos. A gente fica com pena quando ouve pessoas falando que gostariam de viajar mas que não se animam porque precisam esperar o filho crescer. É justamento o contrário. É preciso viajar enquanto ele é pequeno, porque as crianças crescem e vão ficando mais chatas com algumas coisas. A única dica que eu posso dar para alguém que queira ser um influenciador é ser honesto e transparente.
52 lugares para ir em 2020
Anualmente, os jornalistas do The New York Times fazem uma lista de lugares para viajar. Em 2020, as opções contam com destinos montanhosos, praianos, culturais, históricos e de contemplação. O Brasil é representado na seleção com a Mata Atlântica. Para conferir o levantamento completo, veja as fotos da galeria: