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Uma visita a Dublin regada a pints de Guinness

  • Créditos/Foto:Paulo Basso Jr.
  • 16/Março/2018
  • Paulo Basso Jr.

Estava calejando o cotovelo no balcão enquanto meu pint (copo de 568 ml) de Guinness era meticulosamente tirado quando o vi de relance, com uma expressão que beirava o deboche, trajando um manto verde, com um cajado na mão e um trevo de três folhas na outra.

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No quadro debruçado sobre a parede, St. Patrick me encarava para, de alguma forma, deixar claro o lugar onde eu havia me metido: Dublin, na Irlanda, um país com tradições milenares, povo festeiro e litros de surpresas a serem desvendadas em meio a seus pubs históricos e cenários dos sonhos.

Paulo Basso Jr.
Bar da Guinness, em Dublin

St. Patrick é o patrono da ilha que, após idas e vindas do tempo, foi dividida em duas: a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.

Em Dublin, capital da Irlanda e principal porta de entrada da ilha, o santo faz parte de uma cultura que inclui a paixão incondicional pela literatura – sobretudo pelo fato de Oscar Wilde e James Joyce terem nascido por lá – e também pela boêmia, celebrada nos mais de mil pubs espalhados pela cidade, onde todas as noites são consumidos litros e mais litros de cerveja.

O que fazer em Dublin

Jovem de espírito e cultural na essência, a capital irlandesa merece muito mais do que uma esticada rápida de quem vai até Londres, como os brasileiros costumam fazer. Trata-se de um lugar feito na medida para quem deseja fugir do convencional em uma viagem para a Europa e enfiar o pé na jaca no maior estilo rock’n roll, de dia e de noite.

Pontes de Dublin

O ritmo da vida por lá gira em torno do Rio Liffey, que corta Dublin ao meio. Uma vez na capital irlandesa, você passa por pontes o tempo todo, como a moderna Samuel Beckett Bridge e a tradicional O’Connell Bridge. Esta última dá de cara com o Spire, monumento em formato de agulha que espeta o céu a 120 metros de altura.

Trinity College

Paulo Basso Jr.
Biblioteca da Trinity College

Já na outra margem do Liffey, ela abre alas para uma série de endereços culturais. O mais importante deles é a Trinity College, universidade fundada em 1592 e dona de uma biblioteca de obras raras, como o Livro de Kells, um evangelho manuscrito e ilustrado artisticamente à mão, que data do século 9º e é apontado como um dos maiores tesouros da literatura medieval.

National Gallery of Ireland

Paulo Basso Jr.
National Gallery of Ireland, em Dublin

Dali é fácil alcançar o National Gallery of Ireland, principal museu da cidade, cujo acervo inclui obras de Caravaggio, Van Gogh e Picasso – a entrada é gratuita.

Grafton Street

Outra pitstop imperdível é a Grafton Street, rua exclusiva aos pedestres, reconhecida pelo piso avermelhado e pelos prédios de estilo georgiano – como a loja de departamentos Brown Thomas.

É nessa via que se encontra a estátua de ferro de Molly Malone, uma escultura icônica dedicada a uma moça que ninguém sabe se realmente existiu.

Paulo Basso Jr.
Estátua da Molly Malone

Reza a lenda que a formosa menina vendia peixes e mexilhões em um período no qual a fome assolou o país, por causa de uma praga que devastou as plantações de batata – catástrofe que realmente ocorreu em meados do século 17.

Nesse cenário, o destino da garota foi trágico: ela teria morrido de febre antes que alguém pudesse salvá-la e, assim, foi transformada em um símbolo daqueles tempos.

Farmácia de Janes Joyce

Paulo Basso Jr.
Farmácia Sweny

Absorvido pela história dramática, vale a pena caminhar até a rua Lincoln Pl, onde, no nº 1, fica a Sweny, farmácia onde James Joyce comprava sabonetes para a esposa  – e cuja descrição aparece em detalhes em Ulisses, sua principal obra.

Estátua de Oscar Wilde

Mais adiante está a Merrion Square, onde desponta uma estátua de Oscar Wilde, situada bem em frente à casa onde o escritor nasceu. É divertido notar como a escultura me encarava com uma leve cara de deboche – coisa típica de irlandeses, provavelmente –, e algo comum aos personagens do autor de O Retrato de Dorian Gray.

Cerveja e uísque em Dublin

Em nenhum outro lugar do mundo uma marca de cerveja representa tanto a identidade de um país como ocorre com a Guinness em relação à Irlanda. Para se ter uma ideia, um desenho inspirado na famosa harpa irlandesa aparece tanto no brasão de armas do país como no rótulo da bebida.

Produzida desde 1759, a cerveja do gênero stout tem gosto forte, malte tostado, coloração escura e teor alcoólico entre 7% e 8% – a pilsen brasileira costuma ter 4,8%.

Ficou famosa no mundo todo graças a campanhas de marketing de sucesso, que incluem a criação do Guinness Book, o famoso livro dos recordes.

Museu da Guinness

Paulo Basso Jr.
Guinness Storehouse

Toda essa história pode ser conferida na Guinness Storehouse, construída em 1904 e na ativa até hoje – diariamente sai de lá cerveja para abastecer 3 milhões de pints, nos mercados nacional e internacional. A fábrica tem uma área enorme dedicada aos visitantes, com loja e um museu no qual se confere como a bebida é produzida.

O tour inclui diversas paradas, com destaque para a passagem pela Guinness Academy, onde especialistas ensinam os visitantes a tirar um pint perfeito.

Paulo Basso Jr.
Bar Gravity, no Museu da Guinness

Mas o melhor está reservado para o final, quando se alcança o Bar Gravity, no sétimo andar do edifício. Trata-se do pub mais alto da cidade, a 44 metros de altura e de onde se tem uma bela vista de Dublin. Lá, a galera se encontra para ouvir um som (rock, na maioria das vezes), com todo mundo jogado em sofás espalhados em torno das paredes envidraçadas.

Old Jameson Distillery

Paulo Basso Jr.
Old Jameson Distillery

Outro destino etílico é a Old Jameson Distillery. Ali, tours guiados ela antiga destilaria da Jameson (atualmente a produção fica na cidade de Cork) revelam como o famoso uísque irlandês ganha toques suaves ao ser triplamente destilado, ao contrário do que ocorre com as marcas mais tradicionais dos EUA e da Escócia – uma vez destiladas e duplamente destiladas, respectivamente.

Templo Bar em Dublin

A capital irlandesa é uma espécie de Vila Madalena (bairro boêmio de São Paulo) europeia, com pubs, cafés, restaurantes e lounges por todos os lados. O bairro que mais concentra casas tem um nome singelo: Temple Bar.

Paulo Basso Jr.
Temple Bar, em Dublin

Curiosamente, ele não foi batizado dessa maneira para indicar que ali existe um tempo de bares, mas como uma homenagem à família Temple, que morava por lá e é tradicional na Irlanda.

O pub mais famoso do pedaço é justamente o que nomeia o bairro, certamente um dos bares locais mais fotografados e estampados em cartões-postais de Dublin.

Paulo Basso Jr.
Fachada do Temple Bar, em Dublin

Pelo histórico, vale a pena dar um pulo por lá e curtir o ambiente tipicamente rústico, com móveis de madeira, sofás pelos cantos e TVs que exibem jogos de rúgbi ou hurling – o esporte mais popular da Irlanda, que é uma espécie de mistura de futebol-americano e hóquei sobre grama.

Porterhouse Brewing Company

Paulo Basso Jr.
Banda se apresenta na Porterhouse Brewing Company

Outro bar legal é o Porterhouse Brewing Company. Decorado com rótulos e garrafas de diversos estilos, é perfeito para quem deseja tomar um copo de Jameson sem pressa, ouvindo rock ou jazz ao vivo, dependendo da programação.

Onde comer em Dublin

Dublin ainda oferece outras opções para curtir a noite com requinte, sobretudo na hora do jantar. Entre elas destaca-se o restaurante The Old Storehouse, onde é possível provar pratos típicos irlandeses, entre eles caldo de carneiro, torta de batata e carne e o Guinness Beef Stew, um ensopado de carne e legumes temperado com cerveja.

Pub na igreja

Muita gente termina a noite em Dublin confessando os pecados em uma igreja. E que o The Church é um pub construído em um antigo templo desativado.

Paulo Basso Jr.
Pub The Church, em Dublin

Sei que parece estranho beber em meio a pórticos góticos e órgãos gigantes, mas esse é o tipo de coisa que pode acontecer a qualquer momento em Dublin. Isso porque diversas igrejas protestantes foram desativadas na cidade após a formação da república e, com o tempo, passaram a exercer outras funções.

Além do pub The Church, o Centro de Turismo local, situado na Suffolk Street, também fica em uma antiga igreja.

Compras em Dublin

Dublin oferece boas opções de compras, em geral com itens mais baratos do que em lugares mais badalados da Europa – com Londres, por exemplo, não dá nem para comparar.

Paulo Basso Jr.
Powerscourt Centre, em Dublin

O shopping que concentra as grifes mais desejadas na capital irlandesa é o Powerscourt Centre, onde é possível comprar relógios Rolex e acessórios de vestuário assinados por Philip Treacy, o chapeleiro oficial da família real britânica.

Texto adaptado de original publicado na revista Viaje Mais, parceira do Rota de Férias.


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